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sexta-feira, 5 de março de 2010

Meu Tom-Tom


24/02/2010

Quando bate o sinal para entrada, meu Tom-Tom vem para a porta da sala e fica olhando todos que passam, ora dando petelecos, cascudos, ora distribuindo apelidos a quem chega e aproveitando para também agarrar as meninas.
Quando todos entram, e vejo que é hora do segundo sinal, ameaço fechar a porta para que ele entre. Tom-Tom entra resmungando um "ainda é cedo" e vai cantando e dançando para o fundo da sala, onde encontra um lugar cercado de meninas. Ainda cantando, ignora o que estou falando na sala, puxa conversa com um colega e ali permanece, até que eu lhe chame a atenção.
Não é fácil chamar a atenção dele, em uma turma de quinta-série onde tudo é novidade e a gracinha do mais atrevido é motivo para dispersar a aula toda. Tenho que entrar na brincadeira, cantar a mesma música. Paro bem perto dele, e fico observando suas atitudes sem dizer nada. Até que ele percebe, pede desculpas e pergunta "que foi professora? Eu não fiz nada? O que é pra fazer?"
Percebo que ele gosta mesmo é de atenção, não só a minha, mas da classe toda. É muito inteligente, aproveito abusar de sua participação nas aulas quando ele está no auge da sua conversa. Cito o nome dele como exemplo na explicação do conteúdo, peço para que leia um trecho de um texto.
Sempre quando individualizo a explicação, ele ouve com atenção e até faz o que peço, mas a todo momento pergunta se está bom, dentro dessa agitação toda e vontade de aparecer para a classe, percebo certa insegurança. Também não produz nada longo, que é pra não perder o fio da conversa. De vez em quando, quando acho que ele está envolvido com a atividade, lá está ele no meio da sala, dançando, com as pestanas dos olhos viradas para cima, mostrando o vermelho dos olhos, arrancando gritinhos das meninas.
Muitas coisas preciso fingir que não vejo, mas em alguns casos preciso sentar ao seu lado e conversar olhando nos olhos. Muitos colegas o colocam pra fora da sala assim que entram. Nunca precisei fazer isso. Nesse ponto ganhei respeito dele e consigo fazê-lo me ouvir. Criamos uma relação de diálogo e acordos.

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