Hoje foi o último dia de aula dos blocos que começaram no dia 18 de fevereiro (cada bloco é formado por seis encontros). São duas disciplinas, uma pela manhã e a outra à tarde. No próximo dia 08 de abril, iniciaremos um novo módulo, com outras duas disciplinas e outras professoras.
O tempo passou muito rápido, e apesar da rapidez, parece-me que foi o dobro do tempo, em seis encontros, a sensação que tenho é que foram doze. Criamos um ambiente seguro, onde aprendemos e compartilhamos experiências, dificuldades, sentimentos e buscamos entender o que acontece conosco na sala de aula durante os outros dias da semana. Buscamos soluções, procuramos embasamento teórico, sistematizamos leituras e assim caminhamos rumo ao próximo módulo.
Infelizmente, como na maioria dos cursos, pessoas encontram pedras no caminho e precisam parar, nossa turma começou com 30 pessoas, já senti falta de umas três, quatro pessoas. Isso tudo me faz ver o tempo como um túnel muito apertado, se a força for minúscula, não conseguimos atravessá-lo.
Experimentei as mais variadas sensações na sala 201: sorri, chorei, senti frio, calor, senti dor, medo, emoção, coragem, vontade de falar, vontade de ficar calada, vontade de abraçar, de escrever, senti sono, senti sede, senti alegria, tive desânimo, depois chegou o ânimo acompanhado de esperança. Engraçado como em cada encontro eu estava sentindo algo. Um dia foi dor no olho esquerdo que estava muito irritado, outro dia foi dor de garganta, estava sem voz, outro dia foi dor no braço, no outro foi cólica, outro dia nem senti nada, apenas sorria, nesse dia eu fui eu mesma. Hoje foi dia de sentir saudade, do que já vivemos e ansiedade pelo que está por vir.
Discussões feitas na aula:
Na aula “Componente afetivo no processo ensino-aprendizagem” assistimos à apresentação do grupo que analisou o filme Take the Lead e fizemos a discussão do texto de Rebecca Oxford.
A autora inicia o texto com duas experiências opostas envolvendo estudantes e a ansiedade no processo de aprendizagem. O primeiro caso é de uma estudante que abandona o curso a se ver diante de uma situação de extrema ansiedade ao ter que apresentar um trabalho no seu curso de Russo. Ressa não tinha autoestima suficiente para vencer seus medos, eliminar a ansiedade.
O segundo caso apresentado é o de Maurice, também estudante de uma língua estrangeira diante de dificuldades com o novo idioma. O desfecho foi de sucesso porque Maurice buscou ajuda externa e estava predisposto a aprender.
No lugar da Ressa eu buscaria ajuda, tentaria multiplicar minhas fichas, resgataria minha autoestima de alguma forma, não desistiria assim tão fácil. Para nós professores, não é fácil perceber se o aluno está passando por alguma dificuldade, sofrendo algum tipo de ansiedade que atrapalha seu aprendizado. O olhar para identificar a ansiedade na sala de aula deve ser apurado, se passarmos a observar alguns aspectos, podemos ajudar o aluno a romper algumas barreiras.
Em se tratando de uma situação de aprendizagem em língua estrangeira, a ansiedade pode se manifestar com maior frequência. Quando o aluno é exposto, por exemplo, em uma situação em que tenha que falar usando a língua estrangeira, o medo logo se manifesta e junto dele outros sintomas que desencadeiam na frustração.
Quando a ansiedade atrapalha o indivíduo (como aconteceu com Ressa), é chamada de harmful anxiety, é um tipo de ansiedade negativa que afeta o desenvolvimento da aprendizagem. Em contrapartida, há a helpful anxiety. Por incrível que pareça, a ansiedade pode ser facilitadora em alguns casos, nesse caso o aluno fica em alerta e acaba se desenvolvendo, resolvendo seus conflitos, como foi a experiência de Maurice.
O conceito de autoestima é definido pela autora como “julgamento pessoal de merecimento, valor”. Ansiedade na sala de aula pode ser evitada quando o professor se propõe a ajudar o aluno. Fracassos podem ser evitados, o estudante pode aprender e ser encorajado sempre.
Há muitos meios para identificar a ansiedade na sala de aula, o primeiro passo é observar o comportamento dos estudantes. A autora cita alguns sinais que podem ser evidenciados como ansiedade: Esquecer a resposta, chegar atrasado, pouca produção verbal, despreparo para responder perguntas simples, mexer muito nos cabelos, na roupa, se envolver de forma distraída com objetos, reclamar de dor de cabeça ou dores inexplicáveis nas partes do corpo.
Outros sinais podem refletir a ansiedade, alguns podem ser notados não só nas aulas de língua estrangeira, muitos desses comportamentos tão observáveis nos alunos podem ser notados também no ensino da língua nativa. Os alunos possuem muito medo, medo de errar, de falar em público; expressam esses medos e ansiedades das mais variadas formas, ora com atitudes que chamam atenção, ora se excluindo da turma.
Não basta apenas identificar a ansiedade na sala de aula, o professor como facilitador deve agir para reduzir a ansiedade. Segundo a autora, podemos multiplicar oportunidades de sucesso na aprendizagem na sala de aula: eliminando possível clima de competição, ser claro com as metas e ajudar os alunos com estratégias, encorajar a turma, ajudá-los a relaxar com músicas, jogos, apresentar atividades variadas e principalmente ajudar os alunos a praticar autoestima... Lembrando os princípios da Aprendizagem por Carl Rogers: Jamais expor o aluno ao ridículo.
Bibliografia usada na aula:
Oxford, R. (1999a). Anxiety and the language learner: New insights (pp. 58-67). In Jane Arnold (Ed.), Affect in language learning. Cambridge, UK: Cambridge University Press.